Os verdadeiros GREMISTAS e os GREMISTAS verdadeiros

 

Quando o amor ao clube não pede permissão

Buenas.
Esta é uma história simples. E, justamente por isso, incômoda.

Em algum lugar, em algum tempo — como tantas histórias que moldam a alma de um clube — existia uma agremiação de futebol com uma das torcidas mais apaixonadas que se teve notícia. Dentro dela, um jovem torcedor. Nada de especial, nada de extraordinário. Apenas alguém que amava profundamente o clube que escolheu amar.

Morando na mesma cidade do seu time, esse jovem conseguiu um emprego. Não era muito, mas era o suficiente para algo importante: tornar-se sócio. Começou como sócio estudante, com mensalidade apertada, mas com o coração pleno. O que o sustentava era a promessa: em cinco anos, tornar-se-ia sócio patrimonial. Proprietário simbólico daquele clube que já era dono de sua vida.


Cinco anos, nenhum título — e amor intacto

Os cinco anos passaram.
Vieram jogos épicos. Vieram derrotas dolorosas. Títulos? Nenhum.

Mas nada disso importou.
A mensalidade jamais atrasou. O jovem fez amigos, participou da vida política do clube, percorreu estradas, cruzou fronteiras, esteve onde o Grêmio estivesse. Viveu o clube como se vive algo que não se explica, apenas se sente.

E então chegou o dia.

Dia de jogo. Dia de churrasco marcado com os amigos. Dia da troca do título.

Foi ao Estádio, dirigiu-se ao departamento social e, sem grandes burocracias — milagre raro — trocou o cartão. De estudante para Sócio Patrimonial/Proprietário. Um pequeno plástico, mas carregado de significado.


A surpresa que não estava no cartão

Radiante, seguiu para o churrasco.
Levava consigo o novo cartão, orgulhoso, quase tímido.

O que ele não sabia era que a maior alegria daquele dia não seria dele.

Ao chegar, foi recebido com abraços, aplausos, emoção genuína. Amigos se aproximaram, brindaram, celebraram como se a conquista fosse coletiva. Alguns se emocionaram ao ver o cartão. Outros repetiam a frase que se tornou o símbolo daquele dia:

“Um brinde ao mais novo sócio proprietário!”

Era orgulho compartilhado.
Era pertencimento real.


O choque com a “verdade oficial”

O tempo passou. E então veio o choque.

O jovem descobriu, anos depois, que ele e todos aqueles amigos felizes não eram gremistas verdadeiros. Não segundo os critérios dos altos signatários do clube. Não segundo cartas oficiais. Não segundo discursos institucionalizados.

Descobriu que amar, participar, questionar e criticar não bastava.
Descobriu que, para alguns, ser gremista verdadeiro exige algo mais perigoso: conivência.

Ser submisso.
Aceitar egos.
Silenciar diante de estrelismos pueris.
Servir como figurante de quem se acredita a personificação do Grêmio.


Quando discordar vira heresia

Segundo essa lógica torta, criticar o que está errado é sinal de desamor.
Questionar decisões é quase traição.
Organizar-se, debater, cobrar — tudo isso passa a ser visto como ameaça.

O amor ao clube, paradoxalmente, precisa pedir autorização.

Mas desde quando?

Desde quando o Grêmio nasceu da obediência cega?
Desde quando sua história foi construída por silêncio?


A diferença que ninguém quer explicar

E então surge a distinção que este texto não aceita calar:

  • O gremista “verdadeiro”, segundo os que se autoproclamam guardiões, é dócil, submisso e conveniente.

  • O verdadeiro gremista, aquele de carne, osso e arquibancada, ama, participa, discorda, sofre, cobra e permanece.

Um obedece.
O outro pertence.


Uma escolha consciente

Por isso, a conclusão é inevitável — e libertadora.

Jamais serei um “gremista verdadeiro” nesses termos.
Jamais aceitarei amar o Grêmio de joelhos.

Prefiro continuar sendo aquilo que sempre fui:
um verdadeiro gremista.

E tenho dito.


📚 Leitura recomendada no Grêmio copero Histórico:

✍️ Sobre o autor

Márcio Oliveski é criador do blog Grêmio Copero Histórico, Criador de conteúdo esportivo e pesquisador da história do Grêmio. Apaixonado pelo Tricolor, dedica-se a resgatar memórias e curiosidades que marcaram gerações de torcedores.


📜 Atualização Histórica

Este artigo é uma atualização de um texto originalmente publicado no antigo Grêmio Copero, preservando o espírito e a memória gremista daquele período.

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