Henrique: o goleiro da retomada gremista e do Gauchão histórico de 1962

Foto reconstituida por IA

Hemuty HENRIQUE Wendel

Poucos jogadores simbolizam tão bem a virtude da paciência no futebol quanto Hemuty Henrique Wendel, o goleiro que entrou silenciosamente para a história do Grêmio ao assumir a titularidade em um dos momentos mais decisivos da década de 1960.

Henrique nasceu em Santa Cruz do Sul, no dia 29 de julho de 1934, e iniciou sua trajetória no futebol defendendo o Força e Luz. Logo depois, transferiu-se para o Renner, onde começou a chamar atenção até chegar ao Grêmio, no início de 1959, inicialmente para ser reserva de Germinaro.

Chegada ao Grêmio e anos de espera

A estreia de Henrique pelo Tricolor aconteceu em 13 de abril de 1959, em um amistoso contra a Seleção Argentina, um cartão de visitas simbólico para quem ainda precisaria esperar bastante por uma chance definitiva. Naquele mesmo ano, mesmo como reserva, fez parte do elenco campeão Metropolitano e Gaúcho de 1959.

Em 1960, com a chegada do goleiro Suli, Henrique permaneceu no banco, mas novamente integrou um elenco vencedor, participando da histórica conquista do Pentacampeonato Gaúcho. No ano seguinte, com a saída de Suli e a contratação de Irno, o roteiro se repetiu: mais uma vez, Henrique aguardava sua oportunidade, sem alarde, sem polêmica, apenas trabalhando.

1962: a chance que mudou tudo

A grande virada em sua carreira aconteceu em 1962. Após a perda do título estadual em 1961, Irno foi para o banco, e Henrique assumiu a titularidade. Alto para os padrões da época, seguro nas saídas de gol e extremamente regular, tornou-se peça-chave na retomada gremista.

Henrique foi o goleiro titular do Grêmio durante toda a campanha do Campeonato Gaúcho de 1962, um dos títulos mais dramáticos e simbólicos da história tricolor — o primeiro da sequência que culminaria no Heptacampeonato Gaúcho encerrado apenas em 1968.

O Gauchão de 1962: uma campanha épica

Aquele campeonato começou turbulento. Após a derrota no Grenal decisivo de 1961, o rival dispensou seu técnico, Sérgio Moacir Torres Nunes, ex-goleiro gremista. Em seu lugar, assumiu Carlos Froner. No Grêmio, permaneceu Ênio Rodrigues.

Com a conquista da Taça Legalidade no início de 1962, Froner acabou desligado do rival, que promoveu Pedro Figueiró, técnico das categorias de base. O Grêmio, por sua vez, resolveu excursionar pela Europa, atrasando sua participação no estadual.

Esse calendário permitiu ao adversário abrir vantagem de cinco pontos. Em 11 de novembro, o Tricolor empatou em 2 a 2 com o Cruzeiro, na Montanha. Porém, no mesmo período, o rival foi derrotado por 2 a 0 pelo Guarani de Bagé, reduzindo a diferença.

As rodadas seguintes mantiveram a disputa aberta até 9 de dezembro, quando o Grêmio venceu o Pelotas por 4 a 0, fora de casa, enquanto o Aimoré, comandado justamente por Froner, venceu o adversário por 3 a 1 nos Eucaliptos.

O campeonato ficou empatado e tudo seria decidido no Grenal.


O Grenal decisivo e o Super-Campeonato

No clássico do dia 16 de dezembro de 1962, nos Eucaliptos, o Grêmio precisava vencer. O empate dava o título ao rival. O Tricolor foi implacável: 2 a 0, iniciando a derrocada colorada e forçando um clássico extra.

A decisão final ocorreu apenas em 7 de fevereiro de 1963, no Estádio Olímpico. Diante de sua torcida, o Grêmio venceu por 4 a 2 e se sagrou Super-Campeão Gaúcho de 1962. Durante toda a campanha, o dono da camisa de número 1 foi Henrique.

Vale lembrar que, naquela época, cada vitória valia dois pontos, e não três, como no futebol atual — o que torna a recuperação ainda mais impressionante.

Grenais, despedida e carreira pós-Grêmio

Como goleiro titular gremista, Henrique disputou nove Grenais, com um retrospecto expressivo:
5 vitórias, 2 empates e apenas 2 derrotas.

Sua última atuação pelo Grêmio ocorreu em 20 de abril de 1963. Depois, transferiu-se para o Corinthians Paulista. Anos mais tarde, retornou ao Rio Grande do Sul, onde ainda defendeu o Guarani de Bagé e o Cruzeiro de Porto Alegre, encerrando sua carreira de forma discreta, assim como sempre foi em campo.

Legado e despedida

Henrique faleceu tragicamente em 12 de fevereiro de 1999, vítima de um acidente automobilístico na BR-116 (Rodovia Régis Bittencourt). Seu nome, porém, permanece gravado na história do Grêmio como o goleiro da retomada, da confiança e de um dos títulos mais marcantes do futebol gaúcho.

Em tempos de heróis ruidosos, Henrique foi o exemplo do goleiro silencioso que decidiu campeonatos.


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✍️ Sobre o autor

Márcio Oliveski é criador do blog Grêmio Copero Histórico, Criador de conteúdo esportivo e pesquisador da história do Grêmio. Apaixonado pelo Tricolor, dedica-se a resgatar memórias e curiosidades que marcaram gerações de torcedores.


📜 Atualização Histórica

Este artigo é uma atualização de um texto originalmente publicado no antigo Grêmio Copero, preservando o espírito e a memória gremista daquele período.

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