Walter Corbo no Grêmio: a história do goleiro uruguaio que marcou o Imortal com títulos, recordes e polêmicas
Walter Luiz Corbo Burmia é um dos goleiros mais marcantes da história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, mesmo tendo atuado no clube por apenas duas temporadas. Sua passagem pelo Tricolor, entre 1977 e 1978, foi intensa, histórica, vitoriosa, dramática e inesquecível para qualquer torcedor gremista que viveu aquela época. Para muitos, Corbo representou exatamente o que significa vestir a camisa azul, preta e branca: grandeza, pressão, superação, rivalidade e eterna paixão pelo Imortal Tricolor.
ads
Nascido em Montevidéu no dia 2 de maio de 1949, Walter Corbo era longe de ser, na juventude, um jogador que parecia destinado ao futebol profissional. Pelo contrário: antes de marcar seu nome na história do Grêmio, do Peñarol e da Seleção Uruguaia, Corbo jogava basquete amador no bairro de La Teja, divertindo-se com amigos e levando uma vida comum. Trabalhava como funcionário de escritório na Will Smith, uma empresa americana importadora de peças automotivas, e levava uma rotina tranquila, sem imaginar que se tornaria goleiro profissional de renome internacional.
ads
A descoberta do futebol e a chegada ao Racing
Seu ingresso no futebol aconteceu graças ao irmão, Romeo Corbo, ponteiro esquerdo do juvenil do Racing Club. Walter, imaginando ganhar um dinheiro extra, pediu ao irmão que o apresentasse ao treinador do clube para tentar uma vaga como goleiro. Tinha altura, agilidade e habilidade com as mãos, graças ao basquete e ao voleibol. A ideia parecia simples, mas mudaria sua vida para sempre.
Romeo levou Corbo ao treinador do Racing, mas com uma condição curiosa: pediu que ele mantivesse segredo sobre o parentesco dos dois, para evitar privilégios. A aposta deu certo. Walter se destacou rapidamente, foi promovido à equipe juvenil e, em seguida, convocado para a seleção uruguaia sub-20.
Após retornar da seleção juvenil, recebeu sua primeira proposta de contrato profissional no Racing e disputou uma grande temporada em 1969. Seu desempenho chamou atenção do país e, ao final daquele ano, o gigante Peñarol bateu à sua porta.
Peñarol e o aprendizado com Mazurkiewicz
No Peñarol, Walter Corbo chegou com a orientação do técnico Oswaldo Brandão: ele deveria ter paciência e aprender com ninguém menos que Ladislao Mazurkiewicz, considerado até hoje um dos maiores goleiros sul-americanos da história. O aprendizado foi intenso. Corbo foi reserva de Mazurkiewicz inclusive durante a Copa do Mundo de 1970, no México, onde a Seleção Uruguaia terminou na quarta colocação.
Quando Mazurkiewicz se transferiu ao Atlético Mineiro em 1971, Corbo assumiu a titularidade e nunca mais largou a camisa número 1. Rapidamente tornou-se capitão, referência e ídolo da torcida aurinegra.
No Peñarol, Corbo viveu anos brilhantes, liderando o clube tricampeão uruguaio em 1973, 1974 e 1975. Também venceu a tradicional Taça Teresa Herrera em 1974, além de retornar à Seleção Uruguaia em 1975, disputando competições importantes como a Taça do Atlântico de 1976, onde atuou no histórico jogo em que Ramírez perseguiu Roberto Rivellino no Maracanã.
Após alcançar prestígio máximo no futebol uruguaio, era hora de um novo desafio.
ads
A chegada ao Grêmio: resposta ao Inter e o início de uma nova era
No início de 1977, Walter Corbo recebeu proposta do Barcelona de Guayaquil, mas acabou fechando com o Grêmio. O Imortal vivia um momento de mudanças e precisava de uma resposta rápida ao Internacional, que havia contratado Benítez, goleiro destaque do Paraguai contra o Brasil no Maracanã. O Grêmio não apenas trouxe Corbo para reforçar o elenco como também para travar uma batalha direta com o rival.
O Tricolor montava um time experiente, competitivo, “cascudo”, capaz de enfrentar o Internacional, que vivia a era mais vitoriosa de sua história, sendo tricampeão brasileiro (1975, 1976 e 1979).
De 1977 a 1978, Corbo viveu momentos épicos, emoções extremas e uma trajetória digna das grandes páginas do futebol gaúcho.
ads
Campeão Gaúcho de 1977: o fim da hegemonia colorada
A principal conquista de Walter Corbo no Grêmio veio logo em sua primeira temporada. Em 1977, o goleiro uruguaio foi protagonista da campanha que encerrou uma sequência de oito títulos consecutivos do Internacional, devolvendo ao Grêmio o orgulho estadual.
Herói entre os gremistas, Corbo entrou na história do Imortal Tricolor como o goleiro que ajudou a virar a chave e iniciar um novo momento da instituição, que culminaria anos depois no crescimento nacional e internacional do clube.
O drama de 1978: da glória ao inferno
Se 1977 foi o ano da glória, 1978 foi o ano mais cruel da carreira de Corbo no Grêmio. Depois de um excelente Campeonato Brasileiro, seu erro na final do Gauchão daquele ano ficou marcado na memória dos torcedores. Em jogo decisivo contra o Internacional, Corbo saiu mal do gol em um cruzamento pela esquerda, chocou-se com o zagueiro Vicente e deixou o caminho livre para Valdomiro marcar de cabeça o gol do título colorado por 2 a 1.
A torcida gremista sentenciou:
“Ele não deveria ter saído do gol. Se ficasse nas traves, teria feito a defesa.”
A derrota, somada à pressão do futebol gaúcho, cobrou seu preço. Com a chegada de Manga em 1979, Corbo deixou o clube após 118 jogos, com 68 vitórias, 36 empates e 14 derrotas, sofrendo apenas 75 gols.
Mesmo assim, deixou números impressionantes: chegou a ficar 704 minutos sem sofrer gol em 1978, um feito histórico para o Tricolor.
ads
Um gigante do GreNal
Walter Corbo jogou 15 GreNais em duas temporadas, um número alto para o período, enfrentando o maior e mais vitorioso Internacional da história. Seu retrospecto foi positivo:
– 6 vitórias
– 5 empates
– 4 derrotas
Foram confrontos marcantes, jogos memoráveis e atuações que reforçaram a verdadeira essência do clássico gaúcho: rivalidade, tensão e eternidade.
ads
Depois do Grêmio
Após deixar o Imortal, Corbo jogou no San Lorenzo da Argentina até 1980, teve rápida passagem pelo Argentino Juniors e retornou ao San Lorenzo. Em 1982, voltou ao Uruguai para defender o River Plate e encerrou sua carreira.
Hoje vive em Montevidéu e trabalha como treinador de goleiros da ONFI, entidade responsável por formar jovens atletas no futebol uruguaio.
ads
Walter Corbo no Grêmio: herói, vilão, mas eterno
A passagem de Walter Corbo pelo Grêmio é a síntese perfeita do futebol e da alma gremista. Foi ídolo, foi criticado, foi exaltado e caiu – mas nunca deixou de ser marcante. Num curto período, marcou seu nome entre os grandes goleiros que vestiram a camisa do Imortal Tricolor.
Como todo jogador inesquecível, teve momentos de glória eterna e noites que pareciam intermináveis. Mas na história do Grêmio, Corbo terá sempre seu lugar garantido ao lado dos nomes que ajudaram o clube a construir sua identidade vencedora.
Porque no Grêmio é assim: não basta jogar.
É preciso sentir.
E Walter Corbo sentiu – e fez o torcedor sentir – como poucos.
ads



